Menos de um mês atrás a Amazon.com anunciou que o Kindle, seu famoso aparelho para leitura de livros digitais, estaria disponível para venda em mais de 100 países do mundo, incluindo o Brasil.
Desde então a blogosfera tem comentado mais ainda as possibilidades desse novo tipo de aparelho, que nos Estados unidos já se tornou o “ganha pão” da Amazon, sendo atualmente o carro chefe em faturamento da empresa.
O Kindle é um aparelho do tamanho aproximado de um livro que conta com uma tela conhecida como E-Ink ( ou tinta eletrônica) produzida pela E Ink Corporation. Na realidade essa tela é formada por microscópicas esferas que contam com um dos lados “pintados” de preto e o outro na cor branca. A polarização dessas esferas produz até 256 gradações de cinza e uma altíssima resolução de imagem. A tela não é iluminada. O E-ink é mais fácil de ser lido à luz do dia ou em alta claridade, tal como um livro ou revista. Como o sistema só usa energia no momento em que é preciso “imprimir” uma página, o sistema é extremamente eficiente, possibilitando o uso de baterias mais leves e mais autonomia de leitura.
O Kindle também conta com o recebimento de livros, jornais e revistas eletrônicos através de uma rede 3g própria chamada Whispernet. No Brasil o Kindle International Edition aparece como um aparelho americano em roaming para as redes de celular local, sendo que a Amazon paga parte dessa conexão através de um contrato com a AT&T mobile. O usuário paga cerca de U$2,00 a mais por livro baixado neste sistema.
Dessa forma o kindle pode ser utilizado em todas as regiões do Brasil que apresentem cobertura GSM (Edge) ou 3G. Bem, muitas pessoas tem dito que essa é apenas uma nova moda, que o livro impresso nunca ficará obsoleto e que a industria gráfica não precisa se preocupar com isso.
Qual poderá ser então o futuro do E-ink na industria gráfica e de impressão digital. Sim, essa é uma ideia interessante, como o setor poderia se aproveitar dessa nova tecnologia?
Partindo do princípio que as primeiras telas de e-ink coloridas estão sendo prometidas para 2011 podemos fazer algumas especulações:
Sobre o mercado editorial: é o primeiro ramo em que pensamos. Com o Kindle a própria Amazon.com apresenta um novo sistema de vendas muito interessante tanto para editores, autores e leitores. A distribuição é eletrônica, não tem custos operacionais e de produção gráfica. Os preços praticados pela Amazon mostram que o ebook sai por cerca de metade do preço de seu similar impresso e produz cerca do dobro, ou mais, de lucro financeiro. Algumas editoras brasileiras já estão em conversas com a Amazon para disponibilizar mais livros nacionais em seu acervo. Pensando bem, com essa lógica econômica, o fenômeno não parece ter volta.
Sobre o mercado de Comunicação Visual e Impressão digital: o que você acharia de algo parecido com uma lona vinílica que recebe comandos de seu computador para apresentar, como numa tela, imagens que parecem impressas com tinta? Talvez esse futuro ainda esteja distante e talvez não seja possível utilizar um computador doméstico para “imprimir” essas imagens em tal “tela” mas a possibilidade existe e já está sendo pesquisada. Nesse caso o mercado de Comunicação Visual e Impressão digital poderia migrar para serviços onde o E-Ink seria a mídia e as empresas seriam os gerenciadores dessa mídia. Do ponto de vista da sustentabilidade a lógica é perfeita. No entanto é preciso alertar que, enquanto a impressão digital for uma coisa econômicamente viável, sempre existirá clientes para esse mercado. Mas se o preço de um “banner digital” (com e-ink) for baixo, adeus mercado...
Sobre o mercado gráfico e de gráficas rápidas: o que você acharia melhor, entregar um cartão de visita impresso convencional ou entregar um cartão com as mesmas características de suporte (toque, textura) mas que pudesse apresentar uma mensagem única e especial para a pessoa que o está recebendo. Talvez você pudesse fazer essa modificação rapidamente, ali mesmo, através de seu celular...
A questão aqui é tentar entender quem vai gerenciar a impressão das imagens nos suportes de e-ink. Se for alguma coisa que possa ser feita facilmente, de modo doméstico, mas com qualidade profissional, o mercado gráfico estará morto. No entanto, hoje em dia, os clientes procuram gráficas convencionais e gráficas rápidas quando precisam da qualidade e do preço que uma impressora jato de tinta doméstica não propicia. É aí que está o cerne da questão.
Se está lógica se mantiver o setor existirá por muito tempo ainda.
Sobre o mercado de design: pode ser que seja o maior beneficiado pela introdução do E-ink. O designer poderia se tornar aquele que gerencia o contéudo criado na própria mídia impressa. Um escritório de design poderia trabalhar com idéias que facilmente migrariam de um suporte a outro. O trabalho seria muito parecido com o que ocorre atualmente no caso do design de sites. Nesse tipo de trabalho o designer normalmente projeta o site (solitariamente ou em equipe) e apresenta o trabalho para o cliente já instalado em um servidor. Já não é tão comum que clientes procurem outras empresas apenas para “publicar” seus sites. Eu mesmo trabalho assim.
A única questão é a da necessidade de investimento em equipamentos e estoque de média E-ink. Se está for uma equação de alto custo o trabalho do designer vai continuar do jeito que está.
Talvez nada disso aconteça e continuemos utilizando o papel como suporte cultural por muito tempo ainda. O papel e a impressão sobre papel são tecnologias muito eficientes e que precisariam de um concorrente a altura para serem desbancados. Esse é o mesmo caso da roda (que ninguém teve a coragem de dizer que já está obsoleta) ou do fósforo (preço, portabilidade e segurança mesmo em dias de perseguição ao tabagismo).
Talvez...
Mas que a tecnologia do E-ink já está aí não podemos negar.
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